
O desencadear do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e, posteriormente o Israel e o Hamas fez com que o mundo inteiro parasse e presta-se mais atenção nessas regiões. Porém, se formos ao continente Africano pode se dizer que existem alguns conflitos na África que precisassem um pouco mais de atenção do que a mídia vem noticiando.
O aumento da violência no Sahel fez com que a região entrar-se para a lista dos locais onde acontecem os 10 mais preocupantes conflitos da atualidade, segundo o Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED). A violência política foi mais difundida na região ao longo dos anos passados, quando foram registrados mais de 2.100 situações como explosões, protestos que terminaram em confusão, conflitos armados e violência contra civis.
SOMÁLIA
A Somália foi alvo de um grande ataque do al-Shabaab no fim de dezembro de 2020. Uma explosão matou mais de 90 pessoas e fez o número de feridos passar de cem na capital Mogadíscio. O atentado virou notícia internacional, mas à anos ações terroristas como esta fazem parte da rotina do povo somali.
Ainda desde 2014, a Somália e o Quênia discutem a soberania e uma nova divisão de fronteira entre os dois países numa região pesqueira, no litoral do Oceano Índico, onde também existe petróleo e gás natural. O conflito também é agravado porque o Quênia apoiou o movimento de independência do Estado de Jubalândia, na Somália. No mês de janeiro, nove pessoas morreram por conta de conflitos de milícias separatistas e tropas do exército na região.

ETIÓPIA
Desde novembro de 2020, na região de Tigray acontecem conflitos entre o governo e um movimento de independência, liderado por uma frente de libertação local.
A Etiópia também tem disputas territoriais com o Sudão, na região de al-Fushqa. Além disso, há uma tensão política com o Egito por conta da construção de uma hidrolétrica etíope no rio Nilo, em território da Etiópia, perto da fronteira do Sudão. A produção de energia na hidrolétrica começou em fevereiro de 2022.
Egito e Sudão temem que ocorra uma crise hídrica por conta da barragem construída pela Etiópia. Os dois países fizeram exercícios militares em conjunto no ano de 2021. Esses exercícios de guerra foram chamados de Operação Guardiões do Nilo.
O país governado pelo vencedor do Nobel da Paz em 2019, o primeiro-ministro Abiy Ahmed, parece não viver uma realidade muito pacífica. O homenageado foi reconhecido por ter colocado fim a um longo conflito com a vizinha Eritréia, mas também alvo de críticas por parte da opinião pública africana por não ter contido conflitos internos etíopes.
A violência política na Etiópia mudou da resistência contra o regime para conflitos étnicos, incluindo tumultos e confrontos instigados por milícias étnicas. Resultado: ao longo de 2019 houve brigas em universidades que terminaram em mortes até grandes conflitos armados. Foram quase 300 registrados no ano passado, entre explosões, manifestações e protestos que desencadearam em violência. Aproximadamente 680 pessoas morreram nestes episódios.

BURKINA FASO
Em Janeiro deste ano, o Movimento Patriótico pela Salvaguarda e Restauração (MPSR), do líder militar Paul-Henri Sandaogo Damiba, assumiu o controlo do país ao derrubar o governo do presidente Roch Kaboré, que estava no poder desde Dezembro de 2015. Por sua vez o Tenente – coronel Damiba foi deposto em 2022 pelo Capitão Ibrahimi Traore.
Cerca de 50 soldados foram mortos no inicio de 2022 durante confronto com grupos extremistas em várias regiões do país. Milhares de civis deixaram o país por medo dos conflitos.

MALI
Em dez anos, entre 2012 e 2022, Mali passou por três golpes de Estado. Os conflitos entre as milícias no norte do país se espalham para regiões no Níger e em Burkina Fasso.
O conflito no Mali é complexo e multifacetado, a situação no país permanece caótica e não há perspectivas de melhora. O contexto atual envolve o governo; os grupos tuaregues que, mesmo com o Acordo, ainda lutam por território; os grupos extremistas, que permanecem bastante atuantes e representam a maior ameaça à paz; e a violência étnica que, desde 2016, vem aumentando.
Os embates entre os grupos e os ataques direcionados aos civis resultaram em milhares de mortos (por ser um conflito atual, é difícil de calcular a quantidade exata), refugiados (cerca de 142.000 principalmente na Burkina Faso, Mauritânia e Níger), mais de 218 mil pessoas deslocadas internamente, além da deterioração da situação humanitária e violação dos direitos humanos, afetando mais de 5 milhões de pessoas.
O conflito no Mali é altamente politizado e envolve uma grande quantidade de atores com diferentes interesses e objetivos. A MINUSMA possui um mandato robusto desde seu desdobramento e adotou uma postura mais agressiva conforme os anos devido a um agravamento do conflito. No entanto, ainda não conseguiu estabilizar a situação, conter os ataques dos grupos armados e proteger a população civil.

BURUNDI
O país no Sul de Ruanda passou por uma guerra civil nos últimos dois anos. Os conflitos internos diminuíram em junho do ano passado, quando o líder militar Evariste Ndayishimiye foi eleito presidente. A pandemia e o aumento da fome provocaram a retomada de conflitos entre grupos extremistas na região.
Visando legitimar a sua continuidade no governo, Nkurunziza estabeleceu a realização de um referendo em maio de 2018, que previa a possibilidade de sua continuidade no cargo até 2034. A vitória de Nkurunziza no referendo constitucional de 2018 foi marcada pela suspeita de coação, repressão e assassinato de ao menos 15 opositores. Diante desse quadro volátil no âmbito civil e militar, aproximadamente 1,200 pessoas morreram entre 2015 e 2018 em embates. Nesse período, após a ONU pedir para que a Corte Penal Internacional investigasse as violações aos Direitos Humanos no país, Nkurunziza retirou o país da jurisdição da Corte.
O conflito mais recente, iniciado pelo desejo do presidente de continuar no cargo, se prolonga com o surgimento de pequenos grupos rebeldes com organização similar aos grupos rebeldes existentes nos anos de guerra civil. Com um crescente desgaste político, em junho de 2018, Nkurunziza anunciou que não concorreria nas eleições gerais de 2020, mas esta decisão não foi suficiente para reduzir a escalada de violência no pais.

É certo que não se pode deixar passar despercebido a qualquer conflito que acontece no mundo, porque para além da situação de destruição que estes causam, também existe a situação humanitária que muita das vezes é violada levando ao sofrimento desnecessário a população inocente que só é vista como dano colateral do conflito.