GOLPE DE ESTADO NO GABÃO – POR QUE OS MILITARES DERRUBARAM A DINASTIA DE MAIS DE 50 ANOS?
BONGO um Sobrenome muito forte na arena politica da África francófona,
porque esta família governou o Gabão a 55 anos. Nas últimas eleições
presidenciais pouco depois de o Centro Eleitoral Gabonês (CGE) ter confirmado
que o actual Presidente Ali Bongo tinha sido eleito para um terceiro mandato
com 64,27% dos votos, ouviram-se tiros na capital, Libreville.
De seguida na madrugada de 30 de Agosto de 2023, as forças de defesa e de segurança e o Comité de Transição e de Restauração das Instituições (CTRI), anunciavam em rede nacional ter tomado o poder em nome do povo para por fim ao regime do então presidente.
Não só por aparentar colocar fim a uma dinastia que durava mais de 50 anos, este golpe de estado tem algumas características muito peculiares por ser feito em uma região que viu recentemente alguns governos caírem por via dos militares e por ser o sétimo golpe de estado numa ex colónias francesas nos últimos 3 anos.
Como a família Bongo ficou muito tempo no poder?
Quais são as correlações que este golpe tem com os mais recentes registados na região?
A DINASTIA BONGO
Ali Bongo Ondimba serviu como presidente do Gabão de 2009 a 2023, quando então foi deposto. Num mandato que durou 14 anos e que a data do golpe tinha sido prorrogado ao terceiro consecutivo, ele chegou ao poder após a morte do anterior presidente em exercício o Omar Bongo Ondimba (seu pai) que tinha se mantido no poder a 42 anos, consolidando assim uma dinastia de 56 anos para ser exacto.
No período do poder no gabão foram observadas várias polémicas como rebaptizar a cidade de Lewai para Bongoville (por ser a terra natal do então presidente Omar Bongo). Nos últimos anos sob liderança do Ali Bongo, persistiram várias dificuldades como uma taxa de desemprego de cerca de 30% da população activa, detenções sumárias durante manifestações estudantis ou sindicais, mau acesso aos cuidados de saúde, deficiências nos serviços públicos, cortes recorrentes de electricidade e relação diplomática e comercial com a França.
Por exemplo: a educação é padronizada no sistema educacional da França, possui o francês como idioma de ensino. Aquela potência europeia detém o direito de preferência sobre todos os recursos naturais do Gabão e o acesso privilegiado aos contratos governamentais.
No Gabão mais de metade da população está abaixo do limiar de pobreza. Com todos os problemas no país, em 2016 Ali Bongo reelegeu-se em eleição marcada por inúmeras irregularidades, prisões, violações dos direitos humanos, protestos e violência pós-eleitorais. Mas mesmo depois desses acontecimentos pós eleitorais, o mandato presidencial continuou e a primeira vez que o presidente do país sofre uma tentativa de golpe de Estado foi em 2019, militares que tentaram tomar o poder acabaram sendo presos. À época, o governo determinou um toque de recolher na capital e cortou o acesso à internet, mas, a acção de 2023 confirmou-se como um golpe efectivo, colocando fim a uma das mais longas dinastias em África.
SEMELHANÇA COM OUTROS GOLPES DA REGIÃO
O Gabão fica na África Central, na costa oeste do continente na zona do Franco CFA (moeda esta sob tutela e regulamentação directa da França). Com o golpe a preocupação maior pode estar para a potência europeia que vem perdendo influência cada vez mais na região ocidental e central de África. Ora vejamos o Gabão é rico em mineiros e faz parte da OPEP (Organização dos países Exportadores de Petróleo) e quem é responsável pelas operações de exploração deste recurso valioso é a francesa Total Energy. E ainda assim outras gigantes francesas lideram a exploração de minérios no país como o mangânes, gás natural e ferro.
Após o anúncio do golpe, centenas de pessoas foram às ruas em tom de comemoração pela saída de Bongo do poder – vídeos nas redes sociais mostram celebrações nas ruas, numa acção igual a que se observou no Níger recentemente. Onde uma junta militar tomou o poder no fim de Julho. O país era uma das poucas democracias na região do Sahel.
Mas os golpes não são só estes na francofonia, nos ultimos 3 anos viram-se 7 golpes dentre eles, no Mali em Agosto de 2020 e Maio de 2021, Guine em Setembro de 2021, Burquina Faso Janeiro e Setembro de 2022, Níger em Julho de 2023 e por fim no gabão em Agosto de 2023, mas se formos a considerar o golpe de Outubro de 2021 no Sudão, o número de golpes na região do ocidental e central de África sobem para 8.
Os crescentes levantes militares em África, deixam Paris cada vez mais preocupado com a possível perda de influência na zona fraco africana, onde as manifestações dos governos golpistas e da população são contra o poderio francês na região. Preocupações estas que escalam significativamente ao ponto do próprio presidente francês Emmanuel Macron afirmar que está se viver uma “epidemia” de golpes de Estado na região francófona africana.
O chanceler da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que acompanha o caso e que o bloco deve discutir a situação no Gabão, “Se for confirmado, é um outro golpe militar que aumenta a instabilidade em toda a região”, disse, acrescentando que a situação é um grande problema para a Europa.
Por outro lado a Rússia já reagiu dizendo “Moscovo recebeu com preocupação relatos de uma acentuada deterioração na situação interna no amigo país africano. Continuamos monitorando de perto o desenvolvimento da situação e esperamos por sua rápida estabilização”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova. Nos fóruns geopolíticos muito se tem falado da influência crescente da Russia em África.