Como a França perde controle sobre suas Ex-Colônias Africanas
Em fevereiro de 2023, o Exército do Burkina Faso anunciou o fim das operações da força francesa Sabre no país. Numa evidencia clara de como a França está perdendo o controle das suas Ex-colónias africanas, esta decisão veio três semanas após o Governo de transição denunciar os acordos de defesa firmados entre Paris e Ouagadougou, mesmo com a contínua ameaça jihadista. Analistas veem esta ação como um claro rompimento de relações com a França, refletindo um padrão observado em outros países como Mali, Guiné e Níger.
Contexto Histórico e Motivações
Esses países têm em comum o fato de serem ex-colônias francesas. Por muitos anos, esses territórios fizeram parte da esfera de influência da França, numa relação benéfica para Paris, mas custosa para esses países. Nos últimos anos, essas nações passaram por golpes de estado perpetrados por militares que tendem a se afastar definitivamente dos franceses, destacando a clara perda de influência da França em suas ex-colônias africanas.
As Amarras Francesas
Após a Segunda Guerra Mundial, com o surgimento dos movimentos nacionalistas, a independência das colônias europeias tornou-se inevitável. Para manter a influência, a França estabeleceu um “pacto colonial” que ainda hoje prejudica suas ex-colônias. porque este pacto é composto por 11 acordos, entre eles:
- Dívida Colonial: Os novos estados independentes devem reembolsar o custo das infraestruturas construídas pela França durante a colonização.
- Confisco das Reservas Financeiras: Os países africanos devem depositar parte de suas reservas financeiras internacionais no Banque de France.
- Prioridade nos Recursos Naturais: A França tem o primeiro direito de comprar os recursos naturais das ex-colônias.
- Prioridade para Empresas Francesas: Interesses e empresas francesas têm prioridade em contratos públicos.
- Fornecimento Exclusivo de Equipamento Militar: A França tem o direito exclusivo de fornecer equipamento militar e treinar oficiais.
- Intervenção Militar: A França pode desenvolver tropas e intervir militarmente para defender seus interesses.
- Língua Oficial: O francês deve ser a língua oficial e do ensino.
- Uso do Franco CFA: As colônias francesas devem usar exclusivamente o Franco CFA.
- Relatórios Anuais: Obrigação de enviar à França um balanço anual e um relatório sobre a situação das reservas.
- Alianças Militares: Proibição de alianças militares sem autorização francesa.
- Aliança em Guerras: Obrigação de aliar-se à França em caso de guerra.
Apesar dessas restrições, as ex-colônias estão conseguindo se distanciar de Paris.
O Fim da Linha para a França
Em 2023, o Mali anunciou a ruptura unilateral do pacto colonial e do tratado de cooperação de defesa com a França. A retirada das tropas francesas foi vista como um grande retrocesso no combate ao terrorismo, mas a população maliana celebrou a saída das forças estrangeiras.
O Burkina Faso seguiu o exemplo, comunicando a retirada de tropas francesas após a tomada de poder pelo capitão Ibrahim Traoré em um golpe de estado. Em resposta, a França suspendeu toda ajuda ao desenvolvimento e apoio orçamental ao Burkina Faso. O presidente do Burkina Faso, Ibrahim Traore, declarou que o corte da ajuda francesa não matará o país, mas sim motivará a autossuficiência.
Após um golpe de estado no Níger, manifestantes queimaram bandeiras francesas e expressaram apoio à Rússia. O Níger quebrou acordos comerciais com a França, impactando a importação de urânio para Paris.
Em setembro de 2023, Burkina Faso, Níger e Mali formaram a Aliança dos Estados do Sahel (AES), uma nova aliança de defesa para combater insurgências e ameaças externas. Este pacto substitui a operação Barkhane liderada pela França.
Conclusão
Diversos fatores indicam que a França está perdendo influência em suas antigas colônias. Este movimento é um reflexo da busca por autonomia e a rejeição de políticas neocoloniais. Deixe nos comentários outras evidências ou fatores que possam contribuir para essa discussão.
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