Israel declarou guerra total ao grupo Hamas depois deste país ter sofrido um brutal ataque tendo deixando inúmeros mortos entre civis e militares logo no primeiro dia dos ataques, numa acção em que a opinião pública culpou os serviços de inteligência israelenses de terem falhado por antecipar este atentado. Paralelamente, algumas fontes afirmam que o Egipto tentou alertar antecipadamente que algo grande estava sendo planificado na faixa de Gaza.
Alegações estas que foram prontamente negadas pelos israelenses. Mas se verificarmos as fronteiras entre as partes que compõem o conflito podemos perceber que ambos fazem fronteiras com Egipto. Esta questão geográfica preocupa naturalmente o Egipto, e não só.
PRESSÃO NA FRONTEIRA ENTRE EGIPTO E GAZA?
Há mais de 2 milhões de pessoas dentro da faixa de Gaza. A passagem de Rafah fica pouco mais de 30 km da cidade de Gaza, esta é a fronteira com o Egipto. Uma viagem de 45 min de carro poderia salvar a vida daqueles que estão dentro do território palestino. Mas essa solução depende agora de um delicado cálculo geopolítico.
O regime egípcio fechou a passagem de Rafah por tempo indeterminado. Mesmo assim, os egípcios têm afinidades óbvias com os palestinos de Gaza. Compartilham não só uma fronteira mas também uma história e cultura influenciada pelo islamismo e pela civilização árabe. O dialecto falado em Gaza tem marcas do Egípcio, na pronúncia e no vocabulário.
Por outro lado, o regime de Abdel Fattah al-Sisi vai tentar evitar a entrada de centenas de milhares de pessoas no Egipto. O país já passa por uma grave crise económica e de segurança. Isso sem falar nas eleições presidenciais, que devem se realizar em Dezembro de 2023.
Outro factor fundamental é a desavença ideológica entre o Egipto e o Hamas. O Hamas tem sua génese no movimento egípcio Irmandade Muçulmana que o governo persegue.
O ataque de Israel a Gaza causou alarme no Egipto, que pediu ao vizinho Israel que fornecesse uma passagem segura para os civis do enclave palestino, em vez de incentivá-los a fugir para o sudoeste, em direcção ao Sinai, disseram duas fontes de segurança egípcias. “O Egipto não permitirá qualquer êxodo em massa de palestinos para o Sinai e considera qualquer movimento que leve os palestinos a migrar para o sul como uma séria ameaça à sua segurança”, disseram as fontes.
O Egipto está agindo para evitar um êxodo em massa da Faixa de Gaza para a Península do Sinai, depois que os bombardeios israelenses interromperam as travessias no único ponto de saída do enclave palestino. Rafah é o único ponto de passagem possível para o Sinai para os 2,3 milhões de habitantes de Gaza. O restante da faixa é cercado por Israel e pelo mar.
Segunda-feira, depois do inicio dos ataque do Israel, cerca de 800 pessoas deixaram Gaza pela passagem de Rafah e cerca de 500 pessoas entraram, embora a passagem tenha sido fechada para o movimento de mercadorias.
O governador do Sinai do Norte reuniu-se com as autoridades locais na segunda-feira para planejar qualquer crise resultante dos acontecimentos em Gaza, informou seu gabinete. Até o momento, não há sinais de reuniões em massa de palestinos na travessia de Rafah, mas relatos afirmam que existem planificadas algumas partidas.
O Egipto tem planificado nos últimos anos, acções para pacificar a região do Sinai que por coincidência faz fronteira com Gaza. Houve confrontos armados por ali, e o custo político de receber palestinos pode ser imensurável. O combate ao terrorismo é hoje uma das principais bandeiras do Sisi.
RELAÇÃO ISRAEL – EGIPTO
Se recuarmos no tempo, vamos perceber que a relação entre o Egipto e Israel foi sim muito conturbada, e isto remonta a criação do próprio estado Israelita. Duma forma resumida, o Estado do Israel (que surgiu por imigração de judeus vindos maioritariamente da Europa) foi criado em terras que já habitavam o povo Palestino a séculos, e curiosamente como no resto do médio oriente, este povo são na sua maioria islâmico. Esta questão religiosa fez com que vários países islâmicos incluindo o Egipto conduzissem Guerras contra o Israel por não reconhecimento da legitimidade do estado israelense em consequência de perda considerável e continua de territórios do povo palestino.
Mas, depois da Guerra de Yom Kippur que também é conhecida como Quarta guerra Árabe-Israelense, que culminou com assinaturas de acordo que devolveram a região dos montes Sinai ao Egipto, e pela política de aproximação do então presidente egípcio Anwar Sidat. O Egipto foi o primeiro país islâmico que reconheceu o Israel como um estado legítimo, em um acto que não agradou a nenhum outro país do médio oriente.
Com este reconhecimento, existiram varias contestações tanto externas como internas que culminou com o assassinato do presidente Anwar Sidat em plena cerimónia Militar, num acto terrorista que aconteceu por infiltração dos radicais nas unidades militares que desfilavam na tal parada militar. Mesmo com estes acontecimentos a politica Egípcia não teve praticamente nenhuma mudança com relação aos aspectos diplomáticos com o vizinho Israel, que assinaram vários acordos de cooperação ate em sectores mais sensíveis com inteligência e troca de informações estratégicas.
Os recentes acontecimentos entre o Israel e o Hamas que culminou com as alegações do Egipto dizendo ao público que tentou alertar o governo Israelense sobre alguma movimentação na faixa de Gaza e que foi prontamente rejeitada pelo Israel, não mudará em nada o grau de cooperação entre estes 2 países, salvo se existirem outros factores geopolíticos na região que possam fazer com que uma das duas nações tome uma postura completamente diferente de que se vive hoje. Lembremos que as nações não são amigas mas sim tem interesses em comum.
Existe um medo visível que este conflito não se limite somente a faixa de Gaza, mas com alianças confirmadas e não, possa expandir por vastas áreas do médio oriente, se isso acontecer países africanos como Argélia, Marrocos e Tunísia podem também ter alguma forma de conflito.